Barro
Barro do Cacheiro
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O Cacheiro é uma pequena aldeia do Concelho de Nisa, algo isolada e despovoada, e cujas peças de olaria apresentam caratarísticas distintas das da restante olaria nisense: são integralmente constituídas por barro vermelho, o tipo de pedrado utilizado na sua decoração é todo ele do tipo “grosso” e a morfologia das peças é normalmente mais tosca e bojuda.
A explicação para estas particularidades na sua produção oleira, parecem radicar precisamente nas especificidades geo-sócioeconómicas da própria aldeia. Assim, enquanto a Vila de Nisa foi durante largas décadas do século XX ponto de passagem obrigatório para quem viajava de Lisboa para a Beira Interior, e vice-versa, recebendo assim muitos visitantes, o Cacheiro, devido ao seu isolamento (dista 8 km da sede do Concelho), permaneceu resguardado de toda esta espécie de invasão externa. Ora, enquanto em Nisa se gerou um circuito comercial com um tipo de clientela que procurava as peças artesanais de olaria para funções decorativas, ligadas a uma função simbólica (recordação) e estética, o que introduziu modificações no processo de produção e na própria morfologia das mesmas, no Cacheiro permaneceu um tipo de procura tradicional, ligada principalmente ao fator utilitário dos objetos.
Desta forma, em Nisa, e com o intuito de corresponder a este novo tipo de procura e suprimir o acréscimo de trabalho daí decorrente, começou-se a fabricar peças compostas por barro preto e branco, formando-se assim uma pasta muito mais maleável e resistente (logo mais fácil de trabalhar), com uma decoração mais subtil (através do pedrado de 1ª e 2ª) e morfologias inovadoras: miniaturas, pratos, travessas, moringues com formas de animais (uma espécie de cantis em forma de porco, galo, ou peixe, e cujo primeiro oleiro a produzir foi o Mestre Manuel José Salles), cinzeiros, jarrões e outras peças executadas por encomenda, algumas até com inscrições específicas.
Pelo contrário, na aldeia do Cacheiro continuou-se a fabricar exclusivamente em barro vermelho, com pedrado "grosso", e em formatos tradicionais, mais toscos e bojudos, ligados à conservação, arrefecimento e transporte da água: a população local, de cariz eminentemente rural, comprava um pote para conservar água fresca em casa, mas também um cantil, uma cabaça, ou um barril de ganhão para levar para o campo. A acrescer a isto, os viajantes da Linha Ferroviária da Beira Baixa (o Mestre José Lopes e seu filho, residentes no Cacheiro, vendiam muito nas estações ferroviárias do Fratel de Vila Velha de Ródão) compravam também algumas garrafas muito simples, apenas para matar a sede na viagem, sendo mesmo comum nessa altura verem-se muitas delas a boiar no Tejo.